Surgiu no mundo um inimigo silencioso, um vírus que infeta os humanos e que os mata, altamente contagioso e ainda sem vacinação para o “detonar”. Parecia uma realidade distante, daquelas que só ouvimos nas notícias, mas de repente ele veio alterar as nossas rotinas.
Desde dia 16 março, não vamos à escola, deixei de praticar todas as minhas atividades desportivas, o padel, o ténis de mesa e até o surf. Tudo proibido, nem à rua vamos, temos de lavar as mãos quinhentas vezes ao dia e ainda desinfetá-las com álcool.
Apesar de cá em casa falarmos abertamente de tudo, até terça-feira não tinha bem noção da realidade, até estava chateado com os meus pais por não me deixarem ir às atividades. Para resolver essa situação e explicar-me de uma forma prática e realista o que se estava a passar, a minha mãe meteu-me no carro o foi-me mostrar as filas das pessoas, nos hipermercados, nas farmácias, longe umas das outras a manter a distância, os cafés fechados, as esplanadas vazias, a vila de Sintra completamente deserta (uma coisa impensável). Enquanto fizemos este percurso, estive calado e pensativo… realmente estava a ser infantil.
O que é certo é que depois daquele passeio parece que tudo mudou: a escola veio até casa através das novas tecnologias e, de repente, estava cheio de rotinas diferentes: acordar por volta das 10:00, tomar o pequeno almoço, lavar os dentes, vestir-me e ir para a escola, mas no meu quarto, na minha secretária.
Aqui, na minha casa o tempo passa rápido, mas quem tem mais trabalho é a minha mãe. Ela arruma a casa, passa a ferro, cozinha, faz bolos e verifica tudo o que eu faço, ainda faz teletrabalho e faz aula de zumba online, até fico cansado só de falar.
Apesar de estar em casa, privado de algumas coisas, até está a ser positivo pois tenho o pai e a mãe em casa e isso, numa situação normal, era impossível: jogarmos jogos de tabuleiro, jogarmos às cartas e rirmos de parvoíces.
O mais difícil é estarmos longe dos avós e também dos primos, dos tios, enfim é o distanciamento social. Eles moram a mais ou menos 100km, mas costumamos ir a Alcoentre com alguma frequência, mas como dizem os meus pais: “é para os proteger”.
Noto que, apesar de os meus pais manterem tudo normal, dentro do possível, estão preocupados, quando falam com os tios a conversa é séria e afastam-se um pouco de mim, acho que é para não me preocupar.
A minha mãe relembra-me todos os dias que a mim nada me falta, tenho comida, água, luz, gás, computador, internet, impressora, tinteiros, Playstation, telemóvel e que, por isso, só tenho de cumprir com as minhas obrigações: fazer os trabalhos que os meus professores me enviam e ficar em casa pois só assim podemos FICAR BEM…
21/03/2020
Rodrigo Silva (7º ano)